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Normalidade para a Psiquiatria


O conceito de normalidade em psiquiatria passa pelo conceito de normalidade para medicina. Antigamente, para a medicina bastava o silêncio dos órgãos, ou seja, a falta de sintomas para se considerar que tudo andava bem. A medicina e também o conceito de normalidade evoluíram.

Hoje, além do bem-estar e da falta de sintomas, estão agregados os conhecimentos da medicina preventiva, que trata das estratégias para permanecer saudável também no futuro. Assim, fumar um maço de cigarro por dia não é anormal, mas pode causar a anormalidade (ou a doença) no futuro.
Para OMS (Organização Mundial da Saúde) o conceito de saúde é: “o estado de completo bem- estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade”. Essa definição parece que não explica nem ajuda nada, sendo apenas uma definição idealizada, distanciada, incompleta, como se o redator escrevesse qualquer coisa para se livrar do tema.

Bem, na psiquiatria tratamos de comportamentos e pelo que já foi exposto, a normalidade envolveria comportamentos saudáveis no presente e sem potencial maléfico para o futuro, como se a saúde não fosse uma coisa sacramentada e definida, mas algo dinâmico que deve ser continuamente cultivado.
Mas talvez a psiquiatria seja mais complexa que o conceito orgânico da medicina, já que comportamentos dizem respeito a ações humanas. E toda ação repercute em outro ser humano. Um sujeito que tem comportamento agressivo, por exemplo, pode passar pela vida sem sofrer ou ficar doente por sua agressividade, mas pode impingir sofrimento a outras pessoas. Desta forma, surge mais um conceito importante que deve ser considerado no conceito de normalidade para psiquiatria: a vida de relação.

Sob tais aspectos podemos dimensionar a dificuldade de se estabelecer a normalidade, ou melhor permanecer na normalidade, já que tem mais a ver com estado de equilíbrio de si, consigo e com outros. Outros no sentido amplo da palavra: família, vizinho, escola, meio ambiente, frustrações, limites, conquistas, traumas, fatalidades, enfim toda a realidade externa.

Não é incomum um paciente procurar um psiquiatra pedindo um laudo de sanidade mental, seja para o trabalho ou para um processo judicial e, nesse laudo, o psiquiatra deve deixar nítido que no momento do exame psíquico (e apenas no momento do exame) fulano encontra-se em condições psíquicas (a) normais. O psiquiatra e ninguém pode assegurar que esse tal fulano, sendo submetido a um estresse superior ao que pode suportar sua condição psíquica não se desestabilize e fique louco. Assim muitas vezes percebermos um paciente descompensado ou até louco, num período da sua vida, mas noutro recuperado.

A loucura e a sanidade devem ser tratadas como estados e não condições definitivas. Ambas estão dentro de nós e é desejável obviamente que predomine a sanidade, mas não esta atuando como um rolo compressor que nega e aniquila a loucura, mas a entende e a acolhe, podendo extrair da loucura o que ela tem de melhor: a criatividade, tão bem explorada por muitos artistas, músicos e escritores.
É bem atual essa noção que a doença mental é o resultado do desequilíbrio de parâmetros que sustentam a normalidade.

Até a Idade Média (antes do século XVI), a loucura (e tudo o que não era entendido) era excluído e explicado como fenômenos sobrenaturais. A partir do século XVII, com a filosofia racionalista e dualista da época, a loucura passou a ser vista como desrazão, ou seja, a perda da razão resulta na loucura, como se existisse um esforço contínuo da razão para sufocar a desrazão, tal qual uma jaula encarcerando um animal. E, assim como animais, os loucos dessa época eram trancafiados e domados.
E é impressionante que em pleno terceiro milênio ainda existam indivíduos compartilhando dessa mentalidade medieval, concordado que a loucura é a perda da razão.
Não é só a razão que sustenta a normalidade, mas também o bom relacionamento entre o individuo e seus sentimentos.

Para se viver com saúde as pessoas precisam saber o que sentem. Essa frase parece absurda, mas no consultório observamos diariamente pessoas que não sabem o que se passa em seu mundo interno. Não sabem se realmente acertaram na escolha da sua profissão, se gostam da pessoa com quem se casaram, se têm planos para o futuro… não sabem ao certo quem são.
Assim, o amadurecimento emocional também é um dos parâmetros que sustenta a normalidade psiquiátrica.

Além disso, estamos continuamente comparando o individuo com seu funcionamento pregresso. Se a pessoa diz numa consulta que algo que antes a motivava hoje não a motiva, ou que não consegue mais trabalhar. Ou um velhinho que já vem apresentando lapsos de memória ou dificuldade de entender coisas que entendia antes. Ou seja, se a pessoa apresentou queda de seu nível de funcionamento pode ser um indício de doença mental.
Por fim, poderíamos dizer que a saúde mental é um estado mantido pela saúde do corpo, das relações interpessoais e dos sentimentos.