Tratamento da Síndrome do Pânico
A síndrome do pânico é uma das doenças mais comuns da atualidade. Caracteriza-se por uma intensa crise de ansiedade, num curto espaço de tempo, pouco mais de 5 minutos, mas que causa imenso desconforto, sensação de morte iminente e medos dos mais variados tipos.
Normalmente, o paciente vem ao consultório, relata tais sintomas e não sabe suas origens ou suas causas. Apenas diz: ‘eu levava minha vida normalmente e os sintomas vieram do nada’.
Esses sintomas, que eclodem sem sentido e sem explicação, são levados ao médico psiquiatra, que os classifica como síndrome do pânico e prescreve um medicamento. Geralmente, ocorre alguma melhora da freqüência e da intensidade das crises, mas, quando o paciente menos espera, as crises voltam a aparecer, em maior ou menor escala. Com o agravante que, além das crises, surgem medo e insegurança em sentir os sintomas novamente.
A solução proposta pela psiquiatria moderna, fundamentada na farmacologia, resolve o problema parcialmente. Isso porque a medicação consegue ‘segurar’ os sintomas até certo ponto; a partir daí, depende dos recursos do paciente. Por recursos, leia-se capacidade intelectual, emocional, reconhecimento dos próprios limites, dos limites do outro e da qualidade das relações interpessoais para se lidar com os problemas da vida.
Nesse sentido, essa tal ‘solução’, focada somente em remédio, acaba sendo limitada, pois não trabalha com os recursos do próprio paciente, que não desenvolve outros mecanismos para abordar as dificuldades que surgem continuamente no dia-a-dia. Além disso, essa solução focada em medicação também é mais cômoda para o médico psiquiatra (que não precisa se questionar de suas atitudes, já que é a medicação que está tratando), para os serviços de formação de psiquiatras (pois ensinar as doses de medicamentos é mais fácil do que entender sentimentos humanos), para a indústria farmacêutica e para os meios de comunicação (que precisam publicar soluções milagrosas para venderem seus jornais e revistas).
Num tratamento ideal, estão comprometidos médico e paciente. Uma medicação pode ser incorporada nessa dupla se fizer sentido para os dois. Mas é fundamental que os sintomas sejam entendidos, discutidos e ‘costurados’ entre si, para que tenham um sentido, um propósito de existirem; caso contrário, os sintomas se tornam soltos, sem sentido, como se não fizessem parte do indivíduo e aí surgem as expressões como ‘ os sintomas surgiram do nada’.
Claro, há pacientes que apresentam mais dificuldades para sondarem seu mundo interno. Depende muito de cada caso. Há pessoas, por exemplo, que foram criadas em famílias que nunca valorizaram a expressão das emoções, o diálogo, a compreensão, o cuidado recíproco, a preocupação com o íntimo do outro. Essas pessoas provavelmente vão sentir mais dificuldades para identificar quais fatores estão mais relacionados com os sintomas que surgiram, pois nunca foram estimuladas a abordar suas questões internas.
É nesse ponto que entra um bom médico psiquiatra que, não apenas dá um remédio, mas ajuda o paciente a entender e a costurar esses sintomas que ‘surgem do nada’. Outro elemento fundamental no tratamento é a confiança e a segurança num profissional, que são antídotos contra a desconfiança e a insegurança sentida pelo paciente diante sintomas que vão e vêm sem um padrão fixo. A confiança e a segurança são adquiridas ao longo do acompanhamento psiquiátrico, portando é importante que o médico seja uma figura presente, disponível, solícita e pronta para atender a uma intercorrência ou alguma antecipação de uma consulta. O paciente necessita dessa estabilidade; precisa sair do consultório com um retorno marcado, um telefone no caso de uma dúvida e uma idéia de como será o seguimento (consultas semanais, depois mensais, depois a cada 2 meses etc).