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Tratamento da Demência


Compreender os quadros de pacientes idosos com demência talvez apresente a maior dificuldade de toda psiquiatria. O idoso começa a mudar de comportamento, fica teimoso, medroso, retrai-se socialmente, começa a apresentar sintomas de verificação (checa se trancou a porta, se desligou o gás), sintomas depressivos ou psicóticos. Enfim, é como se o paciente passasse a ser outra pessoa.

Para se entender e também saber como lidar com quadros de demência, devemos antes de tudo entender como se dá o desenvolvimento normal do ser humano. No desenvolvimento normal, primeiramente desenvolvemos os sistemas sensoriais (visão, audição, olfato e paladar), depois os sistemas musculares (controles dos esfíncteres, falar, andar) e por último os sistemas psicológicos (amadurecimento, resolver problemas e lidar com frustrações). Necessariamente, o desenvolvimento ocorre nessa ordem, não sendo possível pular etapas.

Na demência, que funciona como uma regressão ou involução, ocorre o contrário: o que foi adquirido por último na escala evolutiva é o primeiro a se perder. Assim, na demência geralmente o que se degrada primeiro são os sistemas psicológicos, seguidos dos prejuízos nos sistemas musculares.
Faço um parêntese aqui para esclarecer que estou discorrendo da demência no sentido amplo do termo, não entrando nas particularidades de cada tipo de demência. A demência de Parkinson, por exemplo, tem a peculiaridade de primeiro afetar os sistemas motores.

Ora, entender a demência nas suas fases iniciais envolve entender de involução dos sistemas psicológicos. Cada paciente involui de um jeito dependendo da sua personalidade prévia.
É muito comum um paciente que apresentou um quadro depressivo durante sua vida jovem devido a um momento difícil, quando foi despedido ou se separou da esposa, e se recuperou, mas, na velhice, volta a apresentar outro quadro depressivo como primeiro sintoma de sua demência. Ou na linguagem médica, a depressão abre um quadro demencial. Podemos observar que nesse caso o paciente já tinha uma predisposição a depressão e, com a regressão de seu cérebro no quadro demencial, voltou a apresentá-la, agora de maneira espontânea sem o “momento difícil”, anteriormente citado.

Como esse exemplo anterior usado, podemos imaginar outros. Pessoas que apresentaram pânico, fobias, psicose, ciúme patológico, TOC ou alcoolismo podem voltar a manifestar esses quadros na velhice desmascarando um quadro de demência que está subjacente.

Cada pessoa se defende com as defesas ou dinâmicas psicológicas que tem. Sob pressão, lançamos mão de nossas defesas, que podem ser de muitos tipos. Numa briga apresentamos um grau de ansiedade maior que pode até nos beneficiar na luta, mas se a ansiedade é muito intensa “travamos”, como no pânico. Evidentemente depende da pessoa e da intensidade do trauma—uma discussão banal de trabalho é diferente da morte de um familiar, por exemplo.

Há defesas que são mais elaboradas que outras. A negação, por exemplo, é uma defesa primitiva na qual a pessoa nega um dado de realidade. No entanto, não é raro idosos negarem seus limites físicos, se expondo a riscos de forma imprudente, numa nítida angústia desencadeada ao se constatar a finitude da vida.
Com menos recursos físicos e mentais devido o envelhecimento do corpo e do cérebro, o idoso se sente fragilizado e muitas vezes se retrai socialmente a fim de não se expor a novos contatos que podem lhe soar ameaçadores. Em casos mais graves, o paciente, para se sentir mais seguro, pode se enclausurar em casa, trancar todas as portas e janelas, isolando-se do mundo. Obviamente, devido a falta de contato e carinho humano, lazer, incentivo, interesses e prazeres cotidianos os idosos com quadros iniciais de demência desenvolvem outros quadros psiquiátricos, como depressão e psicose.

A abordagem de pacientes com demência é difícil porque envolve conhecimentos biológicos, do desenvolvimento psicológico, farmacológico e do desconhecido. Ou melhor, da desconhecida morte, que causa angústia no paciente, familiares e até no médico. A ciência, a religião e a filosofia tentam explicar a morte, mas quem de fato viu a morte não voltou para explicá-la.